terça-feira, 5 de julho de 2011

Eu em Luna Clara

Às vésperas de meus 24 anos inesperadamente identifiquei-me em Luna Clara:

"Luna Clara tinha vergonha de andar com seus passos, de falar com sua voz, de balançar com seus cabelos, de ter cabeça (pra não atrapalhar a visão de quem estivesse atrás dela), de ocupar um lugar no espaço, tinha vergonha de existir, para dizer sinceramente. O nome disso é timidez, se for olhar no dicionário.

Por isso ela andava pouco e tentava passar despercebida nas poucas obrigações sociais que frequentava, um ou outro casamento, alguns batizados ou festas de aniversário.

De tanto aguçar a visão pra ver nuvens que nunca vinham, Luna Clara desenvolveu uma enorme capacidade para encontrar tarraxas de brincos, parafusinhos de óculos, tampas de caneta, botões, chaves, agulhas, percevejos, tostões, formigas de três patas, soluções para problemas de diversos tipos, esperança em desesperado, pulga em cachorro de banho recém-tomado, e respostas difíceis.

Tudo o que encontrava ela guardava no seu quarto (o que era concreto), ou na sua cabeça (o que era abstrato), olha aí a razão de tanto seu quarto quanto sua cabeça serem tão desorganizados."

Trecho de Luna Clara e Apolo Onze da Adriana Falcão.


 

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