terça-feira, 8 de março de 2011

Os Ouros

Seguíamos para Ouro Preto, estrada maravilhosa aquela Conselheiro Lafaiete-Ouro Branco-Ouro Preto. Chuva leve na subida da serra, mato de um lado, mato do outro. Vegetação diferente da que estávamos acostumados. Não deu foto, mas merecia. Entradinhas aqui e ali deixavam pistas da existência de lugares agradáveis na região. Lá no alto, pausa pra um xixi. Continuando mais um pouco, Ouro Preto, a grande decepção.

Havíamos vivenciado muitas emoções e mal sabíamos que faltava ainda àquela oferecida pelos filmes de suspense. —Ouro Preto, cidadezinha estranha —pensei assim que cheguei.
Um sobe e desce de ladeirões sinistros, uma infindade de guias te abordando, uma loucura. Não sei definir com palavras as sensações que ela me trouxe, uma mistura de preto, marrom e cinza. Não fosse pelo valor histórico e pelas figuras que conhecemos, diria —Gostei não. "O diretor do nosso filme certamente estava adorando o mau tempo.Aquele céu cinza, a chuva fina e constante, o cheiro de mofo, os becos, as ruelas —da câmara, da prefeitura, da direita— enfim tudo colaborava para o cenário perfeito." Me vinham à mente cenas de Scooby doo, o tabuleiro de Detetive e os dramáticos textos do Scotland Yard (ainda bem).  Muitas outras lembranças mais reais poderiam ter vindo à tona,  acho que era um recurso do cérebro pra manipular o medo.

Mas voltando a vaca fria, assim que chegamos perguntamos sobre a localização da travessa do albergue onde tínhamos feito reserva. Seguimos as orientações. Um guarda nos deixou no topo de um beco em declive, tipo aqueles que encontramos nas favelas do RJ. Não dava pra ir de carro. Ah, tudo bem, aqui é tudo assim mesmo, deve ser tranquilo. Descemos uns 50 metros e perguntei: Phi, vc fechou o carro? E ele meio em dúvida respondeu que não lembrava. Beleza, volta lá, vai de carro até o pé da travessa e estaciona. Eu vou descendo por aqui. E Fui. Tinha um muro com cruzes em pedra, macabro. Éramos eu, a mochila, o muro e um matagal. Continuei, mas o medo bateu e, como diz minha mãe, "sebo nas canelas. Mais a frente, casas, simples, mas casas. Medo de novo, a imagem do muro não saía da cabeça. Crianças, uffa! E continuei a descer a enorme travessa. Com as pernas amolecidas de cansaço e medo, já quase na base da ladeira, enfim, o albergue. Trouxa. Trouxa, 3 vezes trouxa, pensei. Quase desisti de ficar ali, mas as estalações eram tão jeitosinhas, a vista era tão maneira que fiquei. Pouco depois chega o Phillip ofegante pelos 70 degraus que subira. Alívio.


O cansaço era grande mas a fome era maior, precisávamos almoçar. Descemos, estávamos perto da Mina Chico Rei. Êpa, uma coisa boa! Tá começando a melhorar. Visitamos o museu da Inconfidência e perambulamos tentando fazer o reconhecimento do local. Mais a noite, já na volta, descobrimos uma igreja aberta. Ótimo, vamos entrar. Era uma missa, mas nada impedia. Arquitetura bonita, bem barrocona, nem um espacinho vazio. Mesmo depois de um susto com a imagem de um santo vestido com roupas em tecido e cabelos humanos, a visita ia bem e as palavras do Padre estavam interessantes... até  o momento em que cita o nome do falecido. —É uma missa de 7º dia!!! Essa não! Por hoje é só.

No dia seguinte fomos à Lavras Novas, um dos lugarejos escondidos da tal serra que mencionei no início. Que "cuti cuti" de lugar! A estrada até lá é sinistra, lá vai um, em alguns trechos lá vai meio, mas vale.
 
Na sexta fizemos o passeio de trem para Mariana. O passeio é legal, mas não vá pensando que é uma Maria Fumaça, é o Trem da Vale, trem comum. Mariana, gente, é outra cidade, é Ouro Preto ao contrário. Recheada de história também, mas é clara, arejada, gostosa de andar.


Na volta do trem, em Ouro Preto, visitamos a Igreja mais bonita e singela: Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Ela tem um formato meio arredondado e por dentro é em estilo Rococó. Só destoa o chão que é em piso hidráulico. Depois fui saber que ele foi colocado posteriormente. O chão original era igual ao da rua, em pedra. Getúlio, ao visitá-la na época de seu governo, achou que a Igreja não tinha sido concluída e mandou colocar o piso."Tudum tssss"

Dicas:

-Hospede-se em Mariana e visite Ouro Preto.


-Em Ouro Preto tem um secretaria de cultura que fornece muitos materiais de qualidade. Tem um livreto que traz roteiros e histórias.

-Em Mariana não deixe de ver o concerto de órgão.

-http://www.museuvirtualdeouropreto.com.br

2 comentários:

  1. Adorei a parte da missa! Ri muito.. rsrsrs

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  2. Mas foi cômico mesmo. Depois te mando as fotos dos santos. Gosto muito duvidoso. Não aguentei com uma mãe que queria tirar foto com o filho ao lado do burrico do santo com roupa e cabelo humano que dizia: nossa ele gosta tanto de tirar retrato, não sei pq está chorando. Detalhe, isso no meio da tal missa de 7ºdia.

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